21 de mai. de 2011

Andy Warhol...

...e a cena underground nova-iorquina

Ou: o nascimento do punk através da linguagem psicodélica. Ou ainda: A Bad Trip Libertária



O rock estava na mira de Andy Warhol há algum tempo. 

Ele tinha a intenção de montar o seu próprio grupo, em conjunto com outros artistas da Arte Pop e também outros músicos, tais como La Monte Young, Claes Oldenburg e sua esposa Patty, Walter de Maria e Jasper Johns. 

Porém, um dia viu uma apresentação dos Velvet Underground e mudou de ideia.


Depois de conhecer o grupo, virou empresário da banda. Mas não era um empresário comum, sua meta não era fazer com que o Velvet Underground vendesse muito e sim torná-los parte integrante de sua arte.


os Velvet Underground, acrescidos de Nico


Junto com os Velvets ele montou uma trupe performática, incluindo suas superstars (atores amadores que apareciam em seus filmes underground). 

A trupe toda se chamou Exploding Plastic Inevitable. Tal nome foi retirado de títulos de canções de Bob Dylan, ao melhor estilo dadá.

Warhol excursionou por todo os EUA com o Exploding Plastic Inevitable promovendo happenings, que consistiam em shows do Velvet Underground com projeções e performances dos atores em um local onde as pessoas pudessem participar. Uma espécie de balada maluca. 


Antes dele existia Ken Kesey e os Merry Pranksters, promovendo os "Testes do Ácido" por todo os EUA, e principalmente Califórnia, numa época em que o LSD ainda não era ilegal. Os Testes do Ácido eram uma festa experimental que reunia música, poesia e show de luzes, conhecidos como Light Shows.




Andy Warhol também utilizava os Light shows, febre dos bailes psicodélicos, projetando seus filmes com gelatinas coloridas sobre as lentes do projetor.

As imagens se sobrepunham às pessoas que estavam no evento e também ao palco do Velvet Underground, cujo som era bastante incomum para a época, repetitivo-agressivo, e eles tocavam muito alto.


Exploding Plastic Inevitable


O Velvet Underground não possuía o otimismo "paz e amor" da cena psicodélica. Podem ser considerados um dos elementos do pré-punk, também devedor do garage-rock. 

Os próprios afirmaram não simpatizar com a cena de São Francisco. Ainda mais que eram de Nova York, um universo bem diferente.




O clima de Nova Iorque e da Califórnia eram distintos. Nova Iorque é uma cidade dura, como São Paulo. A Califórnia, em especial S. Francisco, é um lugar paradisíaco, com praias, muito sol e natureza, como o Rio de Janeiro. Os Hippies tinham tudo para florescer em "Frisco".


E quando a turnê de Andy Warhol passou por lá (no Fillmore Auditorium), houve um grande choque de ideologias, que na verdade só se diferenciam entre si pela aparência, porque ambas são frutos da mesma revolta: a busca por uma alternativa à rotina, à vida burguesa.




Os hippies (embora já muito acostumados com a anarquia dos Testes do Ácido) entenderam o show multimídia de Warhol como algo negativo e horrível. E não deixava, em parte, de ser isso mesmo.


Era a linguagem psicodélica que ele estava usando, e era a construção de uma Bad trip: Os light shows em conjunto com a música urgente e alta do V.U., criava um mal-estar, somando-se aí as projeções de seus filmes, que têm o mesmo objetivo de chateação e ainda devemos adicionar as performances dos atores, simulando cenas sado-masoquistas.


O que Andy Warhol queria com esse happening? Estimular as pessoas a simplesmente ser. 

Serem espontâneas, libertarem-se, expulsarem seus demônios, conhecerem-se através dos sentidos e assim expandir a percepção. Criar uma catarse coletiva, ou um hipnotismo subversivo.

A repetição sombria e monótona foi uma forma de traduzir a angustia da vida urbana. O light show do Exploding Plastic Inevitable foi um evento que permitiu às pessoas um momento de imersão ritual e de apropriação estética daquele sentimento de agonia.

O evento ganhou versão cinematográfica por meio de Ronald Nameth, cineasta underground. Assista.

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